sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Como encobrir as causas do desmatamento: a intenção por trás da notícia


A notícia é a seguinte “Derrubada de árvores em reservas indígenas tem conivência de tribos”. O título é alarmista e generaliza a prática, como se a exploração madeireira fosse comum em todas as Terras Indígenas. A matéria é bem mais cuidadosa que a chamada e do que o texto na página online do Jornal Nacional. Ela fala exploração de índios por madeireiros e das necessidades do povo Cinta Larga. O repórter destaca que a Terra Indígena é um pedaço de floresta em meio a fazendas de gado onde só há pasto.

Há alguns equívocos como chamar “Cintas largas”, ou se referir à aldeia como tribo. O termo não é mais usado para falar de povos indígenas. No lugar dele podem ser usados povo, etnia e aldeia. Mas há mais acertos que erros na matéria do grande repórter, Jonas Campos.

O que impressiona é que a matéria é velha, foi exibida no telejornal local a cerca de quatro meses. Jonas Campos nem mora mais em Mato Grosso nem faz matérias para a afiliada local da Rede Globo. Ele mudou-se para Porto Alegre e trabalha na RBS, também componente da mesma rede.

Porque uma notícia antiga está sendo apresentada para todo o Brasil num telejornal da Rede Globo?

Nessa semana saíram os dados do desmatamento da Amazônia , que apresentou um crescimento de 28% em relação ao ano passado. Só pra deixar mais claro, quando anunciam que o desmatamento foi reduzido significa que a velocidade da destruição foi diminuida, mas a floresta continua a ser destruída. Quando os dados de desmatamento indicam um aumento, a área destruída é maior que a do período passado. Então temos o que foi destruído em 2012 mais o que foi destruído em 2013 (28% a mais).

Nesse mesmo levantamento Mato Grosso apontado como responsável de 52% da degradação florestal. Logo depois, Isabela Teixeira, ministra do Meio Ambiente, deu uma entrevista coletiva afirmando que é uma irresponsabilidade relacionar o aumento do desmatamento com o novo Código Florestal.

Lembram disso? A mudança no Código Florestal causou uma comoção nacional em 2012. Até a atriz global, Camila Pitanga pediu veto da presidente Dilma ao projeto de lei. O novo código permitiu desmatamentos maiores e até a redução das áreas de mata ciliar, perdoou as multas de desmatadores. Com a mudança da lei o desmatamento pode chegar bem mais perto do rio, diminuindo a área de floresta que protege os cursos d’água de assoreamento.

Como a reforma do código teve apoio do PT e do PCdoB, Isabela Teixeira quis tirar do governo a culpa pelo aumento do desmatamento. Agora eu pergunto: culpar o Código Florestal é irresponsável ou foi irresponsabilidade alterar o código?

A exibição tardia

Nós sabemos que a Rede Globo de televisão é parceira dos grandes grupos econômicos e, apesar de posar de moralista, a Globo é conivente com corruptos e com a classe ruralista (empresários e políticos). É muito conveniente agora trazer a matéria antiga, sugerindo que o desmatamento de toda a Amazônia foi promovido por ações assim. Todos sabem que a maior fatia do desmatamento acontece para ampliação dos pastos e áreas de cultivo de grãos, esses dados são afirmados por ONGs que monitoram o desmatamento como o ICV e o Ipam. São confirmados por institutos federais como o próprio Ibama e o IBGE.

Não houve mentira no tratamento da notícia dada pelo repórter, mas trazê-la para exibição fora de contexto, sem sequer lembrar que a notícia é fria, é uma desonestidade com o espectador desavisado. Na verdade qualquer problema socioambiental apresentado sem a devida contextualização histórica vai apresentar uma parte da questão. Não é possível falar dos Cinta-Larga, por exemplo, sem falar que muitos foram assassinados para tirar madeira e diamantes das suas terras e que, por isso, muitos decidiram resolver seus problemas com o mesmo dinheiro que a nossa sociedade usa para manipular pessoas e ideias.

Se quiser conferir, a matéria está aqui.