A notícia é a seguinte “Derrubada de árvores em reservas
indígenas tem conivência de tribos”. O título é alarmista e generaliza a
prática, como se a exploração madeireira fosse comum em todas as Terras Indígenas. A matéria é bem mais cuidadosa que a chamada e do que o texto na
página online do Jornal Nacional. Ela fala exploração de índios por madeireiros
e das necessidades do povo Cinta Larga. O repórter destaca que a Terra Indígena
é um pedaço de floresta em meio a fazendas de gado onde só há pasto.
Há alguns equívocos como chamar “Cintas largas”, ou se
referir à aldeia como tribo. O termo não é mais usado para falar de povos
indígenas. No lugar dele podem ser usados povo, etnia e aldeia. Mas há mais
acertos que erros na matéria do grande repórter, Jonas Campos.
O que impressiona é que a matéria é velha, foi exibida no telejornal
local a cerca de quatro meses. Jonas Campos nem mora mais em Mato Grosso nem
faz matérias para a afiliada local da Rede Globo. Ele mudou-se para Porto
Alegre e trabalha na RBS, também componente da mesma rede.
Porque uma notícia
antiga está sendo apresentada para todo o Brasil num telejornal da Rede Globo?
Nessa semana saíram os dados do desmatamento da Amazônia , que
apresentou um crescimento de 28% em relação ao ano passado. Só pra deixar mais
claro, quando anunciam que o desmatamento foi reduzido significa que a
velocidade da destruição foi diminuida, mas a floresta continua a ser destruída.
Quando os dados de desmatamento indicam um aumento, a área destruída é maior
que a do período passado. Então temos o que foi destruído em 2012 mais o que
foi destruído em 2013 (28% a mais).
Nesse mesmo levantamento Mato Grosso apontado como responsável
de 52% da degradação florestal. Logo depois, Isabela Teixeira, ministra do Meio
Ambiente, deu uma entrevista coletiva afirmando que é uma irresponsabilidade
relacionar o aumento do desmatamento com o novo Código Florestal.
Lembram disso? A mudança no Código Florestal causou uma
comoção nacional em 2012. Até a atriz global, Camila Pitanga pediu veto da
presidente Dilma ao projeto de lei. O novo código permitiu desmatamentos
maiores e até a redução das áreas de mata ciliar, perdoou as multas de
desmatadores. Com a mudança da lei o desmatamento pode chegar bem mais perto do
rio, diminuindo a área de floresta que protege os cursos d’água de
assoreamento.
Como a reforma do código teve apoio do PT e do PCdoB, Isabela
Teixeira quis tirar do governo a culpa pelo aumento do desmatamento. Agora eu
pergunto: culpar o Código Florestal é irresponsável ou foi irresponsabilidade
alterar o código?
A exibição tardia
Nós sabemos que a Rede Globo de televisão é parceira dos
grandes grupos econômicos e, apesar de posar de moralista, a Globo é conivente
com corruptos e com a classe ruralista (empresários e políticos). É muito
conveniente agora trazer a matéria antiga, sugerindo que o desmatamento de toda
a Amazônia foi promovido por ações assim. Todos sabem que a maior fatia do
desmatamento acontece para ampliação dos pastos e áreas de cultivo de grãos,
esses dados são afirmados por ONGs que monitoram o desmatamento como o ICV e o
Ipam. São confirmados por institutos federais como o próprio Ibama e o IBGE.
Não houve mentira no tratamento da notícia dada pelo
repórter, mas trazê-la para exibição fora de contexto, sem sequer lembrar que a
notícia é fria, é uma desonestidade com o espectador desavisado. Na verdade
qualquer problema socioambiental apresentado sem a devida contextualização
histórica vai apresentar uma parte da questão. Não é possível falar dos
Cinta-Larga, por exemplo, sem falar que muitos foram assassinados para tirar
madeira e diamantes das suas terras e que, por isso, muitos decidiram resolver
seus problemas com o mesmo dinheiro que a nossa sociedade usa para manipular
pessoas e ideias.
Se quiser conferir, a matéria está aqui.
Se quiser conferir, a matéria está aqui.